As depressões
- André Cabral
- 8 de mai.
- 2 min de leitura
Atualizado: 15 de mai.

AS DEPRESSÕES - “O tempo e o cão”, escrito pela brasileira Maria Rita Kehl (prêmio Jabuti em 2010) permitiu organizar uma teoria das depressões para o campo psicanalítico. Primeiramente, pela “inexistência” de uma teoria das depressões em Freud. Encontrávamos a dimensão do luto ou da melancolia como modo do mal-estar moderno, mas não de um curto circuito nos mecanismos de defesa neuróticos. Kehl retrata uma distinção norteadora entre as melancolias e as depressões. Afastando-se de leituras psicopatológicas que caracterizariam a melancolia apenas como uma doença mais severa, a autora a localiza no campo das psicoses. A princípio, o melancólico é aquele que não recebeu um lugar na economia psíquica e libidinal do Outro. O Outro, aquele que permitiria certa alienação ao desejo, ao campo da linguagem e ao circuito dos afetos, é percebido pela criança como um ser completo não porque se satisfaz plenamente por meio da fusão com o bebê (teoria que também nos remeteria a outras psicoses), mas justamente ao contrário, porque prescinde inteiramente dele para sua satisfação. Se não há desejo advindo do Outro, não há falta que o mobilize. Logo, estamos no campo das psicoses, dado que não há falta da falta. Por outro lado, o depressivo está alocado ao campo das neuroses, ele se origina do atropelo do Outro alienador. A origem da impotência depressiva está na fantasia deste Outro, que representa seu bebê como incapaz de suportar o menor desprazer e de criar uma resposta para os tempos de espera e de vazio – diremos de uma insuficiência da falta. O sentimento de impotência do depressivo se desenvolve em duas vias: primeiramente, o Outro dispensa o trabalho psíquico do bebê; em seguida, o bebê se sente atropelado por um excesso de demandas que ele não tem recursos para atender. Diante da impotência do depressivo, Kehl retoma a importância do imaginário, da narrativa, do fantasiar que é extirpado do sujeito atropelado, ressignificando o registro do imaginário – preterido, em certa medida, após Lacan -, o que reafirma a pertinência de seu livro. Na imagem acima, o cão, símbolo da melancolia, expressão do mal-estar moderno em Durer. (Por André Cabral 03/05/25) (Postagem adaptada para Instagram)
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