Psicanálise e cinema: Série You
- André Cabral
- 15 de mai.
- 2 min de leitura

YOU — Não conseguiremos descrever a série neste breve post; contentamo-nos em realizar um convite aos leitores. Psicopata, sociopata, perverso — entre as diversas classificações atribuídas ao nosso protagonista —, resta o paradoxo de um herói que age em nome do amor, tornando-se ele mesmo o moinho que vitimiza as donzelas. Paradoxo semelhante foi anteriormente apontado por Adorno e Horkheimer, ao interpretarem o imperativo categórico a partir da filosofia sadiana. Onde encontramos a razão a priori como guia da ação moral na lei kantiana, destaca-se, para o Marquês, a lei da natureza. Trata-se de um respeito a priori à ação moral, uma consciência da obrigação do dever, que produz apatia em relação ao mundo fenomênico. Logo, não é a Lei que é negada na perversão, mas o desejo como causa. Pela opacidade da Lei, encontramos tanto o Deus do amor quanto aquele de Sodoma e Gomorra — diabrura que exige o sacrifício de Isaac. É igualmente pelo Deus do amor que o personagem Joe sacrifica suas vítimas. De Beck a Love, o herói da série se encanta por mulheres de beleza vistosa, mas a nenhuma delas é admitido escapar à dimensão de objeto fetichizado. Lembremos que o fetiche impõe duas dimensões: trata-se de um desvio e de uma supervalorização do objeto. Desvio, porque o sujeito consente em reconhecer a Lei desde que localize o falo em outro lugar — comumente nos pés, em objetos ou em mulheres colecionáveis de beleza esplendorosa. Supervalorização, pois permite elevar um objeto sensível à dignidade de uma entidade transcendente, do divino, da Coisa. Embora esse objeto se apresente como supostamente alienante, ele não entra em conflito com a dimensão imperativa do dever moral; não produz resistência à apatia da Lei. Eis a necessidade de Joe: não apenas fetichizar as personagens, elevando suas amantes à condição sublime, mas também recusar-lhes a fissura produzida pela causa do desejo. Por fissura, Freud apontaria para a denegação da vagina como enunciação da castração; nós situaremos a questão em torno da denegação da indeterminação. Por fim, Joe, paradoxalmente, nega o próprio amor — amar é dar o que não se tem (a alguém que não o quer), diria Lacan (Por André Cabral 15/05/25) - (Postagem adaptada para Instagram)
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