Por que deprimimos na atualidade?
- André Cabral
- 5 de jun.
- 2 min de leitura

POR QUE DEPRIMIMOS NA ATUALIDADE? A depressão nem sempre ocupou o cenário psicopatológico com tamanha pujança. Lembremos que, anteriormente, encontrávamos as histerias e as psicoses como patologias centrais para a psiquiatria. Essa diferença paradigmática da clínica decorre do modo como as sociedades se relacionam dialeticamente. Byung Chul Han aponta para uma dialética negativa, marcada pela lei, definida pela proibição e coerção, cujo paradigma pode ser compreendido a partir da relação entre o eu e uma alteridade. Enquanto estranha, a alteridade é sinal de hostilidade, sendo objeto de extermínio pelo inimigo. Han associa essa negatividade ao paradigma imunológico — isto é, quando a estranheza de um vírus provoca defesas em um corpo que busca eliminá-lo, produzindo a imunização. Foi por meio dessa mesma negatividade que Freud encontrou, na clínica da histeria, o paradigma norteador da teoria do inconsciente: uma clínica marcada essencialmente pela relação entre o sujeito e a lei. Na relação dialética entre a criança e o outro, o infans deve abdicar da condição de objeto causa - o saber da verdade -, internalizando a lei e a potência por ela produzida, buscando, no futuro, esse saber da verdade como uma tentativa de restituição do gozo perdido. Na atualidade, deparamo-nos com um paradigma que não é mais negativo, mas positivo. Com a globalização e o neoliberalismo, não há vírus nem alteridade, mas um excesso de iguais, cujas fronteiras e barreiras cedem lugar à liberdade como forma de coação. Não se trata do outro como disciplinador, mas de uma pressão pelo desempenho, imposta pela racionalidade neoliberal. O sujeito é algoz e vítima de si mesmo. Trata-se menos da lei ou da interdição e mais da motivação e do empreendedorismo. Deparamo-nos com o “sumiço” das neuroses, mas enfrentamos uma epidemia de depressivos. No lugar dos hospitais e asilos, encontramos shoppings e Ubers. Curto-circuito das defesas neuróticas (Khel), a depressão anuncia o declínio da busca fálica. O sujeito entra na dialética renunciando à batalha. Frente à infinitude do desempenho e diante do imperativo do dever, sente-se (im)potente e desesperançado (André Cabral 04/06/25) (texto adaptado para o Instragram)
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